Vida de Dona Rafaela até casar com Dom Antônio
          Dona Rafaela foi uma criança sempre muito triste. Ela nasceu em uma casa simples em uma família sem poses. O pai era negreiro e a mãe vendedora em um botequim. Às vezes passavam fome, até que um dia o pai enriqueceu no jogo. E assim, puderam ter uma vida mais feliz e tranquila.
          A mãe, no entanto, não foi acolhida com bons olhos pela sociedade, uma vez que o marido era adepto dos jogos e das libertinagens. Foram excluídos do convívio com a boa sociedade. E se mudaram para o Brasil que ainda era colônia de Portugal. E lá enriqueceram. Aos vinte anos de Dona Rafaela, a família volta a Portugal para tentar um bom casamento, mas ao descobrirem o preconceito das pessoas boas e cultas para com eles, os homens os quais poderiam fazer um bom casamento com ela passaram a repudiá-la.
          Até que um dia, um homem da idade de Rafaela entra em sua casa e pede para conversar a sós com ela. Os pais permitem, mas ficam preocupados com a sua reputação. Ficam fora da casa, mas sempre vigiando. Até que o homem tenta estuprá-la e os pais, ao ouvirem os gritos, entram para acudir. As armas dos homens foram arremessadas ao mesmo tempo e em questão de minutos de duelo, ambos estavam mortos no meio da sala. Restavam apenas ela e a mãe a quem ela tinha que sustentar.
          E até conhecer Dom Antônio, o que levou mais ou menos quatro anos, muitas vezes teve que se prostituir para sustentar as duas. Mas sempre saía disfarçada e usava outros nomes, pois os amigos íntimos da família podiam deixar de ajudá-las se descobrissem algum desses segredos. Isso a fizera uma mulher amarga e rude por muitos anos, mas fora educada de forma muito prendada.
          No bordel, ela era bem disputada, devido à beleza e formosura. Havia disputa de quem chegara primeiro, por duelos ou por ofertas maiores, e assim, os mais ricos sempre ganhavam. Ela fora leiloada muitas vezes e os donos saíam muito satisfeitos, pois essas disputam engordavam financeiramente as casas noturnas. Enquanto ela vivia lá, não precisava preocupar-se com o rastro de sangue o qual carregava em suas costas. Mas se preocupava com uma provável chance de sair dessa vida leviana, ao entrar para essa profissão, mudara o nome para Madame Emmanuelle para não ser reconhecida, nem mal aceita.
          Até que um dia, em um sarau, encontra com Dom Antônio, que se apaixona e passa a cortejá-la, como possuía boa condição e um bom nome, ela rapidamente se casa com ele. E muda seu nome para Madame Marrieur, sobrenome de seu marido.
.         A vida de Dom Antônio até casar com Dona Rafaela foi uma vida de muitas conquistas e provações. O avô paterno fez uma grande fortuna com apenas vinte anos, ao trabalhar muito empenhado em pequenas lavouras de café herdadas do pai. Não tinha vida fácil, trazia histórias de suicídios sucessivos na família, que pareciam ter se interrompido na avó materna.

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