A vida de jornalista é muito corrida. Acordei muito cedo, mais ou menos seis da manhã, arrumei toda a minha bagagem e fui para o aeroporto. O jornal já havia me mandado para a metrópole no dia anterior, partiria na segunda feira para os países árabes. E foi exatamente o que aconteceu. Saí de Itajubá, com destino a São Paulo, no último dia de minhas férias e fui a trabalho para a minha jornada mais esperada.
          Minha viagem teve início por Marrocos, noroeste da África. Minha intenção era, na realidade, chegar ao Líbano, o país de minha maior curiosidade. Mas, devido à rota do avião particular, segui pelo deserto do Saara, região misteriosa e fascinante, apesar de não conseguir ver mais nada à frente a não ser areia.
          Estava acompanhado, no momento, do piloto e de um fotógrafo que me ajudaria a operar a nova máquina de fotografia digital, mas que voltaria ao Brasil no dia seguinte. Eu continuaria meu trabalho sozinho. Seria o único representante do jornal naqueles países árabes.
          Depois de me instalar por completo no hotel e saber mexer, confiante, em todos os equipamentos que o jornal me disponibilizara, saí, mas logo voltei, mais uma vez, pelo deserto. Juntei-me a beduínos que, acostumados a atravessá-lo, me conduziram por quilômetros. Vi apenas areia, mas depois avistei camelos que vagarosamente eram conduzidos por seus donos e,..., novamente, muita areia. Às vezes passavam por nós alguns pastores com seu rebanho. Andar pelo deserto é difícil, mas a minha curiosidade o tornava cada vez mais encantador.
          Quis sentir a areia quente como a das praias, mas sentia falta de água, o calor me incomodava. Carreguei uns três litros de água, pois a temperatura era de mais ou menos cinquenta graus. O chão parecia desenhado, mas me queimava.  A beleza do local aparenta estar na sua não existência. Mesmo existindo, parece que não é real. Como quilos de areia poderiam se amontoar uniformemente e cada parte parecer ser a cópia da anterior? Por mais que eu andasse, parecia que não saía do lugar de início!
          Foi andando por aquela areia, selecionando o que mais me impressionava, quando avistei a uns metros de mim uma linda mulher junto a outras burcas. Nunca vi traços tão perfeitos, olhos puxados, apesar de grandes e arredondados, cor de mel. Mesmo escondidos atrás do véu, como seus cabelos, consegui avistá-los. Seu corpo estava envolvido por completo por um pano fino, como um vestido longo. Tentei me aproximar daquela mulher misteriosa, mas, por infortúnio, a perdi de vista.
          Meu coração desejou ardentemente um dia reencontrá-la para desvendar seus mistérios. Por hora, estava decidido a conhecer todo aquele mundo magnífico. Mas, sua imagem, mesmo que não muito nítida não saía da minha imaginação.
          No dia seguinte, aluguei um carro e saí por Marrakesh. Marcela, meu amor do Brasil, acabara de ligar. Tudo bem, mesmo ela sendo meu relacionamento longo e atual, algo entre nós virara monotonia, talvez por isso, a vontade de rever aquela mulher, mesmo que fosse para me envolver apenas por uma noite. Queria viver, na verdade, uma grande aventura, ou quem sabe novos amores. Nesses países é permitido. Sei que o meu amor é Marcela, e é pra ela que pretendo voltar depois que meu trabalho terminar. A execução do meu livro-reportagem pode me consagrar como um grande jornalista.
          No hotel, o meu plano de ação estava feito: meu guia de viagem com os pontos de pesquisa, quem entrevistar, o que denunciar, novos contatos, agora era sair a campo. Vez ou outra me pegava pensando nelas. A razão pedia por Marcela, já a emoção, o desejo, a vontade de tudo renovar, a curiosidade do local, me chamava a atenção para aquela bela mulher desconhecida.
          No Mercado Central de Marrakesh acabei comprando um véu e uma roupa de dança do ventre para Marcela, além de um CD de derbak e dabke. Voltei ao hotel para registrar em reportagens o que havia pesquisado sobre os ritmos e sabores, mas estava confuso com o pensamento em duas belas mulheres.
          O Mercado Persa possui cheiros característicos de produtos árabes, a pimenta síria, os temperos de tabule, como salsa e cebolinha. O quibe havia de todo jeito! A comida, ou prato pronto que mais me chamou a atenção foi o arroz marroquino, mistura de arroz com carne de carneiro, canela e carne moída. Não resisti, tinha que experimentar! Já conhecia, mas o feito no Brasil, quando se degusta o do país de origem, tudo é diferente. É claro que, no mercado, não há só comidas, tem barracas com joias, bijuterias, terceiro olho, acessórios para as mãos, além dos objetos de dança como bengala, espada, véus, entre outros. O mercado tem muito produto típico e de vários tipos, ao mesmo tempo em que vemos roupas em uma loja, o estabelecimento da frente traz comida, o próximo, frutas secas, a outra barraca, doces típicos. Nem se sabe para onde olhar, tem muita atração.
          Um funcionário aparece com algo feito na hora, artesanal... é a roupa que confeccionou, eles não param de trabalhar nem um minuto. Esse mercado fica aberto por quase toda a semana e funciona por todo o dia, não fecha. A cidade só fica parada no Domingo, que é o dia sagrado de suas orações. A comercialização também para na hora do almoço, hora em que todos os islâmicos se viram em direção à Meca e fazem suas orações, ajoelhados onde quer que estejam.
         
          O Dabke é o ritmo que ficou como tema da minha primeira reportagem: mesmo estando no Marrocos, a dança que se originou no Líbano, tem a sua prática aqui nesse país muito frequente.

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