Às Escuras
          Havia também os véus, de vários tecidos e alguns até de seda, muito leves, acho que usados na dança, os mais leves davam efeitos mais belos e visíveis aos movimentos. E alguns discos de vinil. Queria ouvi-los na eletrola que encontrei bem no fundo, infelizmente, nem todos tocaram.
Entre as músicas, muitas começavam com ar de suspense, como se uma bailarina fosse entrar toda coberta e ao longo da dança se mostrar, se exibir e fazer movimentos curiosos e até mesmo sensuais. Ouvi também um ritmo chamado Derbak, que se assemelha ao samba do Brasil. Imaginei as bailarinas com o tremido de seus corpos, em movimentos travados, restritos a uma única parte, geralmente entre o ventre e os joelhos, apesar das vibrações atingirem todo o corpo.
          Lembrei-me também das danças mais lentas, com taças e pequenas velas acesas que presenciei em algumas reuniões de família. Nelas, as bailarinas contorciam os corpos de forma sensual, faziam cambrês, ou quedas para os lados e para trás, e o mais incrível, mantinham os corpos retos sem perder o equilíbrio. Mas, como estavam com fogo, às vezes se queimavam.  Numa foto sem data, bailarinas sorriam. Não sei como conseguiam sorrir ao tremer o corpo daquela forma, em que faziam um grande esforço, no entanto, no rosto, demonstravam muita leveza.
          As bailarinas, todas maquiadas, cujas cores das sombras se contrastavam com os tons das roupas. O mesmo contraste que percebo ao pensar na religião e na sensualidade da dança. E foi dessa cultura que nasceu a dança mais sensual do mundo!
          Achei estranho, pensava que nessa terra isso não fosse permitido, um local com um governo rígido, leis severas, mulheres tampadas ao saírem nas ruas, e nunca desacompanhadas e que sempre desviavam os olhares ao cruzarem com os homens.
          Vi muitos acessórios, colares imensos e objetos para serem usados nas danças, bengala, espada, jarro e uns pratinhos que serviam como instrumento, chamados snoojes, os quais as bailarinas tocam ao dançar e acompanham os músicos, no ritmo, como se fosse uma segunda voz.
Aquele baú despertou em mim o desejo de conhecer melhor minhas origens.
          Fascinado, eu, Tárik Murad, jornalista de profissão, decidi pegar meus instrumentos de trabalho e planejar minhas próximas reportagens, que, sem dúvida, vão me divertir.
Acabo de entrar nesse novo mundo apelidado por mim de “Terra Proibida” porque desde criança, quando ouvia meus avós falarem, sempre me contavam histórias fantásticas, relatavam as belezas dos lugares e os sabores da cultura. A dança também sempre me inspirou curiosidade, e, claro, desejos! A culinária e as músicas sempre foram presentes em momentos de reuniões com a família e a colônia, reunião das quais tenho grandes recordações e enormes saudades. Lembrança de uma infância também vivida com entes queridos que jamais serão esquecidos...

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