Live com Angelo e Cris

Livros e dança: duas grandes paixões

O que é pra você, escritor, escrever seu livro? Acompanhá-lo desde o nascimento, da ideia, ao processo de escrita, que nunca é sem dor, revisões, reescritas, leituras desencontradas... não! Não era nada do que eu queria dizer! Antes, o livro nascia ali no papel, em meio aos calos das mãos, e as tintas pintando nossos dedos.

Penso eu que todo autor começou com um caderno, uma folha de papel, ao menos os da minha geração para as mais antigas, os novatos, já o fazem direto no PC, nasceram em uma era digital, acho que nem imaginam o que seja o rabiscar após não gostar de alguma citação, ou o jogar a folha fora... quanta dor no coração. Um parto ali sofrido!

As ideias vão surgindo pouco a pouco, quantas experiências tivemos que viver para escrever apenas um parágrafo? Quanta entrega, quanta história paralela ali envolvida, que os leitores jamais conhecerão!

Quando menos esperamos, um, dois, três capítulos... Será que serei lida? 50 páginas já! Mas na formatação, nos reduzem a 25 rsrs. Mais um capítulo, nessa hora, o personagem principal já nasceu, sabemos seu rosto, sua face, seu cheiro, ou nem se quer temos ideia, deixamos para o leitor imaginá-lo, alguns nem nome tem... outros, um nome fictício, pois nos é tão íntimo, tão nosso,  tão amado e tão tirado, que não ousamos revelar. Não descrevemos os olhos, a boca, onde realmente os conhecemos, nem o que ele faz.  Mas mexe conosco como ninguém, é amado em nossa vida real como poucos.  

Alguns dançam, ou a admiram. Outros personagens podem fazer os dois.  Feliz o autor que tem os dois como paixão, dois escapismos, duas fugas de uma cruel realidade, um fundo romântico, musical, no qual a boca não fala sozinha! Sim... o corpo fala, até mais que as palavras proferidas. O choro fala, a dor fala, a postura, o olhar, esse nunca mente, fala mais que qualquer poesia escrita ou declamada. Mas fala mais na dança do que na escrita, na dança, os olhares de quem apresenta e quem vê conversam de forma mútua, se entregam, se questionam, se entendem. O olhar de quem lê, dificilmente, cruza o do escritor, mas atravessa o papel, perpassa significados, não se limita, às vezes, se extrapola, interpela o outro sem pedir licença, sem saber se é coerente, muitas vezes, não importa, faz por ser, escolhe o ritmo que quer ler, mesmo que não tenha sido o que o autor pensava em dançar.

A dança na literatura pode significar muito: uma homenagem, uma sedução, uma entrega, um convite ao amor. Maria Monforte dançou, Carmem assim se envolveu com Don José (confirmar), em meu livro “As escuras”, a odalisca o faz por amor ao jornalista. Ou no texto de Chico Buarque “Valsinha”, a valsa é a metáfora de um amor, um provável acasalamento.

Em um texto, retratei o corpo de uma bailarina em sua dança, seus sujeitos mãe, filho, dor, em seu espaço sala de estudos, palco, até ganhar o mundo e outros como terra, solo, filha recolhida ao próprio ventre. Sujeito ventania, luta, paixão, sujeito pássaro mulher. Quanta literatura oculta em seu vasto coração. E lá estavam elas, sempre de braços dados, dança e literatura...

 Se você admira dança, mas ainda não experimentou por algum motivo, quem sabe o convite do seu corpo não é outro? Bem vindo aos pergaminhos para descrever em palavras os passos do bolero do seu coração!

 

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