Era um governo sombrio, um vírus ameaçador, um perigo certeiro. Alvos morriam a todo momento. Ninguém tinha certeza se sobreviveria. A única esperança era a vacina. Mas, a autoridade suprema do país era tão perversa quanto a doença, e nada queria fazer para ajudar. A cada dia, tudo se tornava mais difícil e mais ameaçador. As doces relações morriam aos poucos, ou nem nasciam. Ninguém podia conhecer ninguém, os olhares, ao cruzarem uma esquina, eram de medo e desconfiança. Muitos passavam por meros desconhecidos, as máscaras começaram a ocultar as identidades, e a revelarem o pavor da possibilidade de ser o próximo a morrer. E, mais genocida que a doença, apenas dois governantes, que nada faziam para apresentar um programa de vacinação ou contenção da doença. Nem ao menos a si, eles se protegiam.

O drama e o desespero tomavam conta das pessoas, cujos parentes agonizavam nas redes hospitalares, onde os leitos se tornavam a cada dia mais escassos e os respiradores já não eram suficientes. Os profissionais passaram a escolher quem matar e quem socorrer.

A saúde pública enfrentava seu colapso, começava a faltar materiais de proteção para os cuidadores e os profissionais já não seguravam o choro. Sabiam do preço do fracasso, a morte de quem cuidavam por descuido, ou por não ter o que fazer; a ameaça que corria a própria vida, ao cuidar e poder contrair, e a distância sofrida que precisavam manter dos entes queridos, por serem alvos de contaminação.

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